segunda-feira, 14 de abril de 2008

Oceano

Os olhos se fixam no horizonte sem nada revelar. A visão é deslumbrante. Azul por todo lado, com movimentos insinuantes e um barulho aconchegante. Aquela imensidão o convida, como o mais doce entre todos os doces. Ou como a confiança sublime do misterioso que entrega seus segredos sem pedir muito, tentando pela segurança oferecida. É imenso. Os passos são incertos, mas caminham com determinação. Seus pés tocam a areia antecipando aquele que será o maior dos momentos, a descoberta. Até mesmo o cheiro de sal, é maravilhoso.

São os pés os primeiros a tocar no mar. É gélida a sensação. Ele para. Analisa a situação com cuidado, pois sente que fora ligeiramente enganado. Esperava que a promessa da imensidão viesse junta com o conforto do calor. Mas não o vem. O momento de indecisão passa rápido. Existem coisas mais importantes do que um calafrio. Segue-se a caminhada incerta, quase bêbada, em direção do meio, do fundo, do infinito.

Mas quanto mais ele anda, mais insegurança sente. A água puxa e empurra. Puxa e empurra. Tenta o derrubar, sem motivo nenhum. E o derruba. A queda é acompanhada da mais gélida sensação. Um frio invade seu peito e água entra em sua boca. Água ruim. E o choro vem aos olhos, o desespero e a incerteza tomam conta de seu pequeno corpo. Mas uma mão está pronta para socorre-lo. Ele, com um sorriso maroto no rosto, o retira da água com delicadeza, e o medo passa. A certeza daquele abraço é eterna, infinita como o mar, porém certa. Contrasta com a incerteza do antes entregue mar. Fala-se algo, mas não quer ouvir. Ameaça-se coloca-lo de volta ao ponto inicial. Mas o choro ainda não teve fim. O momento é de abraço, da calmaria perante o perigo. Que o ludibriou com promessas que nunca cumpriria.

Sentado na areia ele reavalia a situação. Não tem mais a mesma inocência nos olhos. Não tem mais a ilusão de um local sem mistérios, ingênuo. Aquilo é instável, gelado e caprichoso. Começa a andar de lado. A confiança e determinação antes demonstrados, dão lugar a passos bem menos lineares. Avança apenas para retroceder, alternando entre a coragem e medo tão rapidamente que se torna impossível ter certeza se os passos são incertos devido ao medo ou a inexperiência. Pára e observa o mar. Enquanto um pai coruja olha com um imenso sorriso a primeira epopéia de seu filho, o menino se compenetra em algo muito mais profundo. Sabe, agora, que na vida as coisas podem não ser exatamente como elas parecem. Fica imóvel, contrastando com as ondas. Se alguém o olhasse desavisado, sem poder reconhecer sua pequena idade, diria que aquele era um homem que admira, pela primeira vez, a força do oceano.

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